"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Desgraça Alheia




“O futebol são 22 homens atrás de uma bola e no fim ganha a Alemanha”, disse um dia Gary Lineker, descrevendo com exatidão a superioridade teutónica. O que provavelmente o avançado britânico desconhecia é que os alemães, para além de vencerem demasiado, são os únicos que têm uma palavra que dá corpo ao prazer que sentimos com o falhanço e a derrota dos outros – schadenfreude.
O futebol é o espaço por excelência para a schadenfreude, para o entusiasmo com a desgraça alheia. O prazer que retiramos do jogo depende tanto das alegrias oferecidas pelo nosso clube, como dos desaires infligidos aos adversários. Vibramos com as nossas vitórias, mas vibramos igualmente com as derrotas dos outros. Aliás, há uns meses, a Revista Líbero citava um estudo científico, realizado no Mundial98 e no Euro2000, que provava que os mais fanáticos dos adeptos holandeses desfrutavam mais com os insucessos da Alemanha do que com as conquistas da Laranja Mecânica.
Já o filósofo Nietzsche defendia mesmo que a Schadenfreude era uma emoção social vital, pois unia as pessoas e criava identidades partilhadas. Ou seja, somos de um clube também porque somos anti outro clube. Sem rivalidade e sem prazer com o infortúnio dos outros, o futebol perdia o sentido. Humano, demasiado humano, este sentimento de vingança que é tanto mais forte quanto mais nos sentimos em desvantagem.
Schadenfreude, meus caros amigos: foi um lindo fim-de-semana de futebol este que passou.

publicado no Record de terça-feira