"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Que Presidente queremos?


Se bem que ainda distantes e passíveis de contaminação pelo resultado das legislativas, as presidenciais têm estado no centro da especulação. Perante isto, os partidos sugerem que o tema é prematuro e sublinham que a prioridade é a escolha do próximo Governo. Faz sentido taticamente, mas não estrategicamente. Por força da proximidade entre eleições e tendo em conta as exigências de governabilidade e cooperação institucional que se vão colocar, eleger Governo e Presidente são opções interligadas.
Se assim é, não é prematuro identificar os requisitos de um bom candidato presidencial, assim como definir um perfil relevante para o país no próximo ciclo político.
Como é frequentemente dito, um candidato presidencial competitivo tem de ser capaz de crescer eleitoralmente para lá do seu espaço político. A ideia de que alguém alinhado com uma direção partidária e promovido como candidato oficial de um partido tem vantagem é, aliás, um equívoco. Não menos importante, 40 anos passados do 25 de Abril, o regime só teria a ganhar se tivesse uma mulher na Presidência. Seria, por si só, um indicador de institucionalização democrática.
Naturalmente que as escolhas presidenciais não podem ser politicamente neutras. Há, a este propósito, dois critérios importantes: saber como é que os candidatos se posicionaram perante as questões mais marcantes dos últimos anos e de que forma podem contribuir para os compromissos de que o país vai necessitar.
 Num período de incerteza como o que vivemos, há temas que se sobrepõem a todos os outros: a estratégia de consolidação orçamental; a gestão da dívida e a sustentabilidade do Estado social. Um bom candidato presidencial tem de ser alguém que, desde o início da crise, não tenha hesitado, nem assumido posições dúbias, em relação a estes três temas: criticando a austeridade, colocando-se do lado de uma solução europeia para a dívida e não hesitando na defesa do papel do Estado e das responsabilidades públicas na proteção social, na educação e na saúde.
            Já em relação ao próximo ciclo político há um grande consenso: a capacidade do país ultrapassar o bloqueio em que se encontra e de desenvolver uma estratégia reformista gradual, assente num horizonte de médio prazo, depende de um compromisso político. Nesse sentido, e tendo em conta que todos os indicadores anunciam uma vitória do PS, um Governo liderado por António Costa pode ganhar com um Presidente que alargue o seu espaço de influência, mais do que ter em Belém quem reproduza a base social de São Bento.
Por tudo isto, vejo boas razões para se ponderar uma candidatura de Manuela Ferreira Leite. Aliás, com uma outra vantagem: estamos a falar de alguém que já perdeu eleições nacionais e as derrotas políticas são um momento de aprendizagem.

publicado no Expresso de Sábado.