"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 18 de março de 2014

o pleno das más notícias


Quem são os verdadeiros responsáveis pelas medidas de austeridade? Estamos melhor ou pior? A austeridade veio para ficar? E qual é a melhor saída para Portugal no pós-troika? As respostas que os portugueses dão a estas questões espelham bem os nossos dilemas políticos e não deixarão de influenciar as decisões políticas que Portugal terá de tomar nos próximos tempos. 
Os portugueses continuam a fazer uma avaliação esmagadoramente negativa da execução do memorando de entendimento, mas, na sua maioria, responsabilizam mais a troika do que o Governo português pela austeridade. Os sacrifícios continuam a estar associados a uma determinação externa e as escolhas políticas internas parecem ser vistas como menos relevantes. Se esta avaliação pode dar algum conforto ao executivo, o mesmo já não é verdade quando olhamos para a resposta à questão que marcou o último congresso do PSD: Portugal está melhor ou pior?
Perto de 70% dos portugueses considera que o País está pior e um valor superior sublinha que a sua situação ou da sua família se degradou (77%). Aparentemente, as pessoas não concebem que a situação do país possa estar a melhorar quando sentem a sua vida a piorar. 
O pessimismo pelos vistos veio mesmo para ficar. Não apenas a libertação nacional do Dr. Portas, o novo 1640, um momento a partir do qual tudo seria diferente, não existe na cabeça dos portugueses - apenas 6,5% acreditam que as medidas de austeridade vão diminuir, terminada a execução do memorando - como já há uma maioria a preferir um programa cautelar (ou seja, a continuação da condicionalidade) em lugar de uma saída limpa, como aconteceu na Irlanda.
No fundo, os portugueses interiorizaram uma narrativa em que é sugerido que nada podemos fazer, que o que tem acontecido é algo que nos é imposto, que não há qualquer margem política para reconquistarmos a nossa autonomia e que a austeridade e as suas consequências sociais e económicas vieram para ficar. Como as sondagens medem as percepções e a interpretação que é feita da discussão pública, fica também demonstrado que há um défice de debate político sobre o passado recente, mas, também, sobre as possibilidades para o futuro. Enquanto não for claro que as escolhas internas são relevantes, não há, de facto, grande margem para mudança. 
Para já, estamos face ao pleno das más notícias para os líderes partidários: ao contrário do que diz Passos Coelho, poucos acreditam que o país esteja melhor; ao contrário do que promete Paulo Portas, ninguém crê que a situação melhorará no pós-troika; ao contrário do que sugere Seguro, os portugueses não vislumbram alternativas.


o meu comentário no Expresso à sondagem da Eurosondagem para o Fórum das Políticas Públicas