"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Amigos em Portugal


A história é triste, de tal forma que é capaz de ultrapassar em tristeza muitas das suas músicas. O Vini Reilly sofreu um AVC há cerca de dois anos e a sua situação aparentemente não melhorou. Entretanto, ao mal estar físico – que o impede de tocar guitarra – juntou-se uma situação financeira muito difícil, que faz com que tenha deixado de ter capacidade para sustentar as despesas. Podemos ajudar, respondendo a este apelo do sobrinho.
Devemos-lhe todos mais do que alguma vez seremos capazes de retribuir. Eu tenho dificuldade em descrever a dívida que tenho para com ele, quanto mais a forma de retribuir.
O Vini Reilly ofereceu-me várias coisas que não têm preço: a memória da adolescência, que perdura, passada a escutar a sua voz frágil e a guitarra que abria todos os espaços para os sonhos bucólicos; os primeiros concertos (memoráveis) na Aula Magna e no São Luiz; o vinil do LC a rodar vezes sem fim; as pistas para descobrir o situacionismo; o dia em que comecei a abandonar o vinil e comprei o primeiro CD, que tenho marcado a ponto de ser capaz de recuperar todos os passos e as palavras – o The Guitars and Other Machines, na Contraverso. Talvez seja dizer pouco afirmar que foi com o Vini Reilly que construí a minha forma de ouvir música.
Agora, o mais provável é que olhemos para a sua música com uma tristeza renovada. Se bem que essa seja a marca dominante dos seus Durutti Column, sempre entrevi neles, e na capacidade melódica, por vezes exuberante, uma capacidade única de ofuscar toda a tristeza. De tal forma que, ainda hoje, tenho a certeza que, quando as músicas dos Durutti Column se entranham, nunca mais nos podemos sentir abandonados. Talvez seja essa a principal dívida que tenho para com ele.
Sobre a banda, Miguel Esteves Cardoso escreveu, já lá vão  trinta anos: “esta música não é uma coisa prosaica e ingénua; não é papel-de-parede para tapar os buracos verdadeiros. Aqui há também uma luta. O que é preciso é raspar levemente a superfície da pintura, para encontrar a sua base de tintas negras e feias, o seu medonho inconsciente. Não há beleza sem contraponto, nem harmonia sem contraste. E a música de Vini Reilly é só isso.” É mesmo só isso.